Disfunções Temporomandibulares / DTM
(extraído da “Tese de Doutorado do Prof. Paulo Afonso Cunali, 2009)
O aparelho mastigatório, constituído por ossos, músculos, articulações, ligamentos e dentes, é extremamente complexo. Essas estruturas relacionam-se entre si para desempenhar várias funções, sendo as principais a mastigação, a fala e a deglutição. Os movimentos necessários para qualquer uma dessas funções são coordenados por um complexo sistema neuronal, o qual visa o máximo de função com o mínimo de dano para as estruturas que compõem o sistema (Oliveira, 2002, Okeson, 2008, Paiva, Paiva, 2008).
A terminologia empregada, Disfunções Temporomandibulares ou DTM, refere-se a um conjunto de alterações funcionais e/ou estruturais que se manifestam nas articulações temporomandibulares (ATMs), nos músculos da mastigação (MM) e nas estruturas associadas que compõem o aparelho mastigatório (Okeson, 1996).
Sinais e sintomas das DTM
A DTM é considerada um subgrupo das disfunções musculoesqueletais e constituem a principal fonte de dor na região facial, excluindo-se as de origem dental (Okeson, 1996). As queixas mais comuns dos indivíduos com a DTM são: a dor ou desconforto na região da face e das ATMs dor essa desencadeada ou exacerbada pela função mandibular (mastigação principalmente) (1); a limitação da função mandibular com ou sem desvios no movimento de abertura bucal (2); os ruídos nas ATMs (estalidos e crepitações) (3); as dores de cabeça (4); as alterações na qualidade do sono (5) (Solberg et al., 1979; Oliveira, 2002; Conti et al., 1996; Okeson, 1996; McNeill, 1997; Yatani et al., 2002; Collesano et al., 2004; Vazquez-Delgado et al., 2004; Oliveira et al., 2006; Selaime et al., 2006;; Cooper, Kleinberg, 2007).
Etiologia das DTM
Vários são os fatores que contribuem para que uma disfunção do sistema mastigatório se desenvolva (Okeson, 2008). Dentro do conceito multifatorial da DTM esses fatores podem ser divididos, de forma objetiva, em os que contribuem para o aumento do risco de uma DTM, denominados de predisponentes; os que provocam o início da DTM, denominados de desencadeadores; e os que dificultam ou interferem com o mecanismo de “cura” ou aumentam o grau de complexidade dessa disfunção, levando a estágios mais graves de limitação ou incapacitação, denominados de perpetuação (Okeson, 2008). Os fatores predisponentes são difíceis de serem identificados, mas podem ser subdivididos em sistêmicos, psicológicos e estruturais. Qualquer tipo de trauma (direto, indireto e microtrauma), a sobrecarga das estruturas articulares e os hábitos parafuncionais (bruxismo, por exemplo), compõem o grupo dos fatores desencadeadores. Dentro dos fatores perpetuadores estão as tensões mecânicas e musculares, os problemas metabólicos e, principalmente, as alterações comportamentais e psicoemocionais (Okeson, 1996).
Prevalência das DTM
Os números apresentados por vários estudos não deixam dúvidas quanto à alta prevalência da DTM na população em geral, a qual atinge de 16 a 59% dos indivíduos (Solberg et al., 1979; Oliveira, 1992; Conti, 1993; Conti et al., 1996; Oliveira et al., 2006; Cooper, Kleinberg, 2007). Acrescente-se a esses dados os fornecidos pela American Academy of Orofacial Pain (Okeson, 1996), que revelam que de 50 a 80% da população apresenta algum sinal ou sintoma de sofrer de uma DTM. Cerca de 10% dos portadores da DTM necessitam de tratamento, uma vez que essa disfunção pode trazer sérias limitações funcionais (incapacidade mastigatória e limitação da abertura bucal, por exemplo), incapacitação para o trabalho e para as atividades sócio-familiares. (Solberg et al.,1979; Henrikson et al., 1997; Kuttila et al., 1997 ; Nilsson, 2007). A distribuição dos indivíduos que sofrem da DTM, quanto ao gênero e à faixa etária, mostra que a incidência é maior nas mulheres, na proporção de 5:1 e, geralmente, na faixa etária entre os 20 e os 50 anos (Solberg et al., 1979; Oliveira, 2002; Oliveira et al., 2006; Cooper, Kleinberg, 2007).
Diagnóstico das DTM
O diagnóstico das DTM é feito por um Cirurgião Dentista, especializado ou capacitado na área da dor orofacial e das DTM, por meio da anamnese e de exames clínicos específicos, que podem fundamentar o diagnóstico. A anamnese deve possibilitar o levantamento da história pregressa do indivíduo, assim como dos possíveis fatores predisponentes, desencadeadores e perpetuadores.
A queixa da limitação da função mandibular é um sintoma subjetivo patognomônio da alteração funcional que, como as DTM, são manifestações musculoesqueletais, devendo a palpação sobre a musculatura mastigatória e/ou sobre as ATMs desencadear ou exacerbar os sintomas dolorosos descritos pelo indivíduo. A dor ou o desconforto também devem estar presentes durante os movimentos mandibulares da abertura da boca (Okeson,1996).
A característica mais importante das DTM está relacionada à cronicidade da dor. Os indivíduos com a DTM, apesar de apresentarem uma grande variedade de sinais e de sintomas, têm como razão principal para a busca do tratamento o sofrimento causado pela dor crônica devido à DTM. O aspecto multidimensional dessa dor implica que uma avaliação completa das DTM passe pela análise dos fatores biopsicossociais (List, Doworkin, 1996).